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05/02/2018

Darius: Os principíos da força

Meu nome é Alyssa Roshka Gloriana val-Lokan. Por quase dois milênios, meus ancestrais reinaram sobre o Forte do Minério.


Comandantes de guerra, nações e impérios em potencial tentaram nos destronar, gananciosos pela fortuna que os Montes Ferrifarpos nos ofereciam, mas nenhum rompeu nossas barreiras. Eles se lançavam contra os nossos muros como ondas do mar e caíam arruinados pelas nossas lâminas.


Todos fracassaram... até a chegada de Noxus.


De repente, o reinado da minha família chegou ao fim.






Ela ergueu a cabeça enquanto eles subiam a Escadaria do Triunfo. Guardas fardados vigiavam a escadaria a cada doze degraus, mas o olhar firme e resoluto de Alyssa se dirigia diretamente à frente. Era a primeira vez da garota na capital, mas ela se recusava a transparecer qualquer deslumbramento ou a observar seus entornos como uma plebeia provinciana. Ela vinha do Forte do Minério, e o sangue real corria em suas veias.


Guardas em armaduras metálicas escuras posicionavam-se nas laterais da escadaria. O minério usado para forjá-las vinha das profundezas abaixo do lar de Alyssa nas montanhas. Todo o melhor metal de Noxus tinha origem lá, nos abismos subterrâneos sob as montanhas. Há cinco gerações, desde que o reino havia sido conquistado por Noxus e incorporado ao império, era assim.


Estandartes vermelhos tremulavam no vento seco daquela tarde enquanto o grupo subia as escadas. O odor de carvão queimado e da fumaça das indústrias chegava até eles pela brisa morna. Em Noxus, as forjas raramente esfriavam.


O Bastião Imortal surgiu diante deles, sombrio e imponente.


"Eles ostentam luxo e riqueza enquanto o nosso povo vive na miséria", disse Oram. Ela lançou um olhar de desaprovação ao irmão, que seguia logo atrás.


Oram Arkhan val-Lokan. Ombros largos, braços fortes e uma inegável habilidade com a espada, mas, na opinião de Alyssa, tudo isso vinha acompanhado de certa arrogância e limitação intelectual. No entanto, ela disfarçava o desdém atrás de uma máscara impassível e inexpressiva. Ele era mais velho, ainda que por questão de minutos, e estava a apenas dois passos de reinar soberano sobre o Forte do Minério. Alyssa sabia bem o seu lugar.


Para quem observasse de fora, era óbvio que Alyssa e Oram eram gêmeos. Ambos eram altos e atléticos, e ambos haviam herdado o olhar frio da família, bem como a postura altiva de quem nasceu na nobreza. Os irmãos tinham longos cabelos negros presos em finas tranças, tatuagens faciais angulosas e mantos cinzentos que recobriam suas armaduras.


Eles chegaram ao topo da escadaria. Um tremular de asas movimentou o ar, e um corvo passou de rasante sobre suas cabeças.


Por instinto, Alyssa quase se abaixou, mas conseguiu se conter. "Seria isso um mau agouro, irmão?"


Ela viu Oram cerrando os punhos.


"Já faz tempo que enchemos os cofres de Noxus e protegemos seus soldados", rosnou ele, sem fazer menção de não ser ouvido pelos guardas. "E tudo isso para quê?"


Para sobreviver, pensou Alyssa, sem falar em voz alta.


Dois guerreiros com armaduras de corpo inteiro aguardavam os irmãos do outro lado das grandes portas de metal do palácio. Eles ergueram o olhar. Suas manoplas seguravam firmemente duas pesadas alabardas, e as três indentações em suas placas peitorais, além do manto e do tabardo cor de vinho, diziam a Alyssa que aqueles não eram guardas comuns.


Em uma nação de assassinos, a Legião Trifariana, formada unicamente por membros de elite, era temida e respeitada por todos, tanto pelos aliados quanto pelos inimigos. Contava-se que sua mera presença já rendia cidades e nações inteiras, que nem tinham esperança de enfrentá-los em combate.


"É uma honra para nós", disse Alyssa. "Venha, irmão. É hora de conhecermos pessoalmente o famoso 'Conselho de Três'".







A primeira coisa que se via ao entrar no salão de audiências era o trono dos antigos imperadores de Noxus. Era um objeto imenso, esculpido em obsidiana, anguloso e obtuso, e os inúmeros estandartes pendurados nas paredes, pilares erguidos em ângulos acentuados e tochas acesas ao longo do salão conduziam o olhar em direção ao trono. Todo o espaço era dominado pela peça.

No entanto, o trono estava vazio desde que o Grande General de Noxus havia morrido.


Morrido, não, corrigiu Alyssa em pensamento. Desde que havia sido executado.


A ausência de um imperador para Noxus significava a ausência de um tirano sobre o trono. Era passado.


Antes de sair de Forte do Minério, Alyssa havia recebido conselhos quanto à essa nova liderança.


Era o "Trifarix," informou o conselheiro-mor de seu pai. "Três poderes juntos, cada um representando os princípios essenciais da força: Visão, Poderio e Astúcia. A teoria é que, se antes um único indivíduo poderia arruinar Noxus por incompetência, loucura ou corrupção, agora haverá outros dois para responsabilizá-lo por seus atos."


Para Alyssa, era um conceito intrigante, mas ainda não testado na prática.


A câmara tinha um ar cavernoso. Ela era grande o suficiente para abrigar mais de mil peticionários, mas, naquele momento, estava totalmente vazia, com exceção das três figuras sentadas em uma mesa simples de mármore ao pé da plataforma do trono.


Os dois guerreiros taciturnos da Legião Trifariana conduziram Alyssa e seu irmão até o trio, passos ecoando pesadamente sobre o chão frio. Os três conjeturavam acaloradamente, mas cessaram a conversa assim que os irmãos do Forte do Minério se aproximaram. Eles estavam sentados em fila, de frente para os recém-chegados como um silencioso comitê de julgamento.


Alyssa conhecia dois deles por suas reputações. Quanto ao terceiro... ninguém o conhecia direito, na verdade.


No centro, com um olhar atento e imóvel, estava Jericho Swain, o renomado visionário, o novo Grande General. Alguns membros das casas nobres ainda o chamavam de usurpador, pois ele havia destronado o louco, Boram Darkwill, mas nenhum deles ousava dizer isso na sua cara. Seu olhar, que parecia ver demais, posou primeiro em Oram, depois seguiu para Alyssa. Ela resistiu ao impulso de olhar para a manga do braço esquerdo do general, enfiada dentro do casaco escuro. Contava-se que ele havia perdido o membro durante a invasão fracassada de Ionia, quando uma espécie de maga das lâminas o decepou naquele arquipélago sobrenatural.


À sua direita estava Darius, o lendário Mão de Noxus, líder da exclusiva Legião Trifariana e agora comandante de todos os exércitos do império. Ele era a encarnação do próprio poder: enquanto Swain sentava-se rígido e ereto, Darius estava recostado, os dedos de uma manopla formando uma tatuagem rítmica sobre o apoio de madeira da cadeira. Seus braços eram imensos, e sua expressão, dura.


A terceira figura, chamada apenas de o "Sem-Rosto", era um mistério. O indivíduo estava imóvel na cadeira, coberto da cabeça aos pés por uma túnica volumosa e cheia de camadas. Ele usava uma máscara preta brilhante, desprovida de elementos expressivos, e até mesmo os buracos dos olhos estavam velados por uma malha escura, ocultando totalmente a sua identidade. Suas mãos também estavam escondidas sob as mangas de tecido grosso. Alyssa pensou ter notado um aspecto vagamente feminino na máscara, mas podia ser simplesmente o ângulo da luz.


Com uma discreta inclinação do queixo, Darius dispensou os legionários que haviam escoltado a dupla. Em saudação, os dois guerreiros levaram os punhos blindados ao peito e recuaram meia dúzia de passos, deixando Alyssa e seu irmão sozinhos diante do Trifarix.


"Sentem-se, por favor", disse Swain, indicando as cadeiras à sua frente.


"Prefiro ficar de pé, Grande General", respondeu Oram.


"Como quiser."


Havia algo de inegavelmente ameaçador e predatório no general, decidiu Alyssa... Considerando que ele era um amputado entrando no crepúsculo da vida...


"Oram e Alyssa val-Lokan, terceiro e quarto filhos do Governador do Forte do Minério", continuou ele. "É longa a jornada desde os Montes Ferrifarpos. Imagino que não seja uma visita social."


"Eu trouxe o selo de meu pai", disse Oram, "para falar em seu nome."


"Então prossiga", disse Darius, com uma voz que soava como o rugido de alerta de um lobo trevoguari. "E sem delongas. Aqui é Noxus, não uma corte da nobreza."


Sua pronúncia era brusca e rústica, ao contrário do sotaque refinado de Swain. Darius falava como um homem do povo, e Alyssa quase sentia o deboche do irmão.


"Por décadas, o Forte do Minério serviu lealmente", começou Oram, enfatizando a nobreza de seu próprio sotaque, em uma demonstração possivelmente imprudente de superioridade. "Nosso ouro alimenta as suas conquistas; nossas armaduras e armas de ferro alimentam os exércitos do império, além da Legião Trifariana."


Darius não parecia impressionado. "O minério de Ferrifarpa produz armaduras da melhor qualidade. De fato, eu jamais permitiria que a Legião usasse outra coisa. Vocês deveriam ter orgulho."


"Nós temos orgulho sim, meu senhor", disse Alyssa.


"Não sou senhor, muito menos o seu."


Swain sorriu e ergueu a mão. "O que ele quer dizer é: em Noxus, nenhum homem ou mulher nasce superior. Não é pela linhagem que se conquista um lugar, e sim pelas ações."


"C-claro", hesitou Alyssa, amaldiçoando-se internamente por seu erro.


"Trabalhamos como escravos na escuridão das profundas minas sob as montanhas", continuou Oram. "E todos os dias vemos os frutos do nosso trabalho serem tirados de nós em grandes vagões de trem que voltam vazios. Mal conseguimos alimentar os nossos..."


"Puxa, é mesmo?" exclamou Swain, levantando uma sobrancelha. "Por favor, vire as palmas das mãos."


"Quê?", disse Oram, surpreso.


"Mostre as suas mãos, garoto", disse Darius, apoiando-se na superfície polida da mesa entre eles. "Mostre essas mãos que labutam na pedra, na poeira e na escuridão abaixo da fortaleza da montanha."


Oram manteve-se impassível, recusando-se a ceder. Darius riu com desdém. "Esse nunca sofreu na vida. Essa aí também não. Os poucos calos que vocês têm certamente não vieram de trabalhar duro".


"Eu não vou permitir que alguém fale assim com...", começou Oram, mas Alyssa colocou uma mão apaziguadora em seu ombro. Com raiva, ele dispensou a mão, mas escolheu sabiamente não terminar a frase. "As montanhas estão sangrando recursos", disse ele, em um tom mais comedido. "É insustentável e não é bom para ninguém - nem para nós, muito menos para os exércitos de Noxus. Alguém tem que ceder."


"Diga-me, Oram Arkhan val-Lokan", disse Swain, "quantos guerreiros o Forte do Minério envia para lutar por Noxus? Por alto. Anualmente."


"Nenhum, senhor. Mas isso é só um detalhe. Nosso povo tem mais serventia trabalhando nas minas e protegendo as fronteiras do norte dos ataques bárbaros. Esse é a nosso grande valor para Noxus."


Swain suspirou. "De todas as províncias, cidades-estados e nações que se submetem a Noxus, o Forte do Minério é a única que não contribui com nenhum soldado para as nossas tropas. Vocês não sangram nem nunca sangraram por Noxus. Será que já não cedemos o suficiente?"


"Não", respondeu Oram, secamente. "Viemos em nome de nosso pai para renegociar nossos impostos, ou o Forte do Minério não terá outra opção senão reconsiderar seu lugar dentro do império noxiano."


O salão ficou em absoluto silêncio. Até Darius interrompeu o incessante tamborilar de dedos.


Alyssa empalideceu e olhou horrorizada para o irmão. Ninguém havia lhe dito nada sobre essa condição, e sua mente começou a calcular as implicações. O Sem-Rosto, de trás da máscara negra brilhante, continuava fitando-a nos olhos.


"Entendi", disse Swain, finalmente. "Creio que eu saiba o verdadeiro propósito de seu pai ao enviá-los aqui, mas a questão é... vocês sabem?"


Oram assentiu com a cabeça para Alyssa. "Mostre a eles", ordenou o garoto, com olhos brilhando de raiva.


Ela inspirou profundamente e tirou do bolso um estojo de pergaminho. Com dedos trêmulos, ela abriu o estojo e retirou um velho rolo coberto de escritos complexos e angulosos em dialeto ur-noxiano. O pergaminho trazia o selo do Forte do Minério e o timbre vermelho-sangue de Noxus. Ela o colocou sobre a mesa e o estendeu antes de voltar para o lado do irmão - meio passo atrás dele, seu lugar designado pelo costume de Ferrifarpa.


Darius parecia desinteressado, mas tanto Swain quanto o Sem-Rosto inclinaram-se para inspecionar o documento. Mais uma vez, Alyssa se viu tentando desvendar qualquer coisa sobre quem se escondia atrás da máscara.


"Quando o Forte do Minério se rendeu ao domínio de Noxus, oitenta e sete anos atrás", disse Oram, "nossos antepassados desistiram de seus direitos soberanos e curvaram-se diante do trono noxiano - o mesmo trono vazio que vejo agora à minha frente."


Darius olhou para ele com desconfiança. "E…?"


"Como pode ver, os termos são claros quanto ao limite da nossa fidelidade. O último homem a se sentar neste trono morreu há pouco mais de sete anos", disse Oram, gesticulando em direção ao estrado. "No que diz respeito ao nosso pai, este papel não tem mais validade alguma. O Forte do Minério não tem mais nenhuma obrigação de continuar pagando impostos, mas continuou a fazê-lo como um ato de boa-fé. Porém, se nossas concessões não forem atendidas, o Forte será obrigado a deixar o império. A região de Ferrifarpa não ficará mais sob nossa proteção imediata."


Alyssa queria desviar o olhar, queria correr, mas se viu paralisada enquanto esperava a reação do conselho.


"A história só lembra dos vencedores", advertiu Darius. "Fiquem com Noxus e sejam lembrados. Fiquem contra nós e sejam aniquilados e esquecidos."


"Nenhum exército jamais violou o Forte do Minério", disse Oram. "Lembre-se que nossos antepassados abriram as portas para Noxus porque quiseram. Não houve sangue derramado."


"Você está jogando um jogo perigoso, garoto". Darius apontou para os guerreiros a alguns passos atrás de Alyssa e Oram. "Bastariam dois membros da Legião Trifariana para entrar e tomar o seu precioso Forte. Eu nem sequer me daria o trabalho de ir com eles."


Como se para enfatizar o argumento, ambos os legionários bateram as pontas de suas alabardas no chão, um som que ecoou como um trovão.


Oram desdenhou a demonstração de poder, mas Alyssa sentiu a confiança de Darius. Afinal, ele não parecia ser do tipo que se exibia gratuitamente.


"Basta", disse Swain, levantando a mão. "Vamos ver o que essas concessões implicariam".






Quando Alyssa e Oram saíram do palácio, a lua prateada já havia passado do zênite no imenso céu noturno. Eles começaram a seguir para a propriedade vizinha, que servia como sua base de operações na capital.


Alyssa estava quieta e pensativa e sentia um aperto angustiante no peito, mas seu irmão parecia energizado pelo encontro com os governantes de Noxus.


"Swain vai concordar com os nossos termos! Tenho certeza", garantiu ele. "Ele sabe que o Forte é importante demais para o império, jamais permitiria que nosso pai fechasse os portões."


"É tudo uma loucura", murmurou Alyssa. "A gente entra lá e você ameaça eles? Era esse mesmo o seu plano?"


"Esse era o plano do pai.


"Por que não me contou?"


"Você concordaria se soubesse?"


"Claro que não", respondeu Alyssa. "Isso não vai dar certo. Vamos logo nos oferecer para a próxima Carnificina..."


"Se conseguirmos convencer Swain, só faltaria convencer mais um para que aceitem os nossos termos", disse Oram, que parecia alheio às preocupações da irmã. "É assim que o Trifarix funciona. O Conselho não pode ficar em um impasse já que bastam dois votos para que haja uma decisão."


"Darius nunca vai concordar."


"Darius é um porco arrogante. Ele acha que pode enviar dois homens para tomar o Forte do Minério? Pfft! Mas temo que tenha razão... Se ele se opuser, só nos sobra o Sem-Rosto. Nossa futura prosperidade depende do voto de quem quer que esteja por trás daquela máscara."


"Então só nos resta esperar para ouvir qual será o nosso destino", disse Alyssa com uma pitada de amargura na voz.


Os olhos de Oram brilhavam perigosamente. "Não necessariamente".


O nó no estômago de Alyssa apertou ainda mais quando Oram começou a explicar.






Ainda faltavam muitas horas para o amanhecer, mas Alyssa já sentia um calor desconfortável enquanto enveredava silenciosamente pelas ruas da capital. À frente de um contingente do Forte do Minério, ela usava um elmo apertado de aço escuro e já sentia o suor molhando seus cabelos.


Ao todo, eram doze, todos com mantos e capuzes sobre suas armaduras. Eles empunhavam balestras pesadas e lâminas amarradas à cintura. Naquela cidade, não era incomum ver tropas armadas de todos os cantos do império; se alguém os visse, suas armas não chamariam atenção. Mesmo assim, Alyssa tinha a persistente sensação de que estavam sendo observados.


E que, de alguma forma, o observador sabia da intenção do grupo.


As ruas e becos de Noxus eram estreitos e sinuosos, construídos para sufocar e frustrar qualquer um que penetrasse as defesas externas da cidade. Os telhados eram planos e crenulados, como o parapeito de um castelo, permitindo que os soldados acima dominassem os inimigos abaixo. Alyssa olhou com apreensão para aqueles telhados escuros. Poderia haver qualquer um lá, acompanhando os seus passos. Isso poderia facilmente ser uma emboscada...


Um tremular de asas negras acima de sua cabeça a fez parar subitamente e mirar as flechas para o céu. Ela se amaldiçoou por estar tão nervosa e gesticulou para os seus seguidores.


"Isso é uma má ideia", disse Alyssa pela vigésima vez desde que haviam saído da propriedade.


Ela havia dito o mesmo ao irmão, tentando dissuadi-lo do plano, mas ele estava decidido. Aquela era a vontade do pai, afirmou Oram com segurança. Eles voltariam para casa após conseguir um novo acordo... ou não voltariam. Não tinha outro jeito.


Agora que ela havia tido um tempo para digerir os fatos, Alyssa não estava mais surpresa com o plano do governador. Como poderia ser diferente? Embora a jornada pudesse acabar na captura e posterior execução dela e do irmão, de que isso importava para seu pai? Ele nunca havia cuidado muito de nenhum deles, guardando todos os seus afetos para o herdeiro: Herok, o irmão mais velho de Alyssa. E, se eles fossem pegos e o Trifarix tentasse mantê-los reféns para manter o Forte sob o domínio de Noxus, ela já sabia qual seria a resposta de seu pai.


Para ele, Alyssa e Oram eram dispensáveis.


Ela e seus homens adentraram as sombras enquanto se aproximavam do Santuário do Lobo, que recostava contra os antigos baluartes ao sul do próprio Bastião Imortal. Seu irmão estaria algumas ruas ao leste com mais homens armados.


Nas semanas antes de o contingente chegar à capital, espiões empregados pelas tropas observaram as movimentações perto do palácio. Uma das observações havia sido particularmente interessante, e era com base nela que Alyssa e seu irmão operavam agora.


Eles estavam se aproximando. Alyssa ergueu uma mão, e os guardas do Forte pararam. O grupo estava nas sombras de uma passagem estreita que dava para o Santuário do Lobo. Era uma torre alta, de vários andares e com as laterais abertas, e cada andar era suportado por pilares de pedra escura. No centro da torre, a quase cinquenta metros de altura, encontrava-se uma enorme estátua de obsidiana de um lobo sentado.


Eles esperaram lá por muito tempo, até que viram dois breves clarões de luz ao longe. Era o brilho de uma lâmina contra a pederneira. Era o sinal de que Oram havia chegado e que o caminho estava livre.


"Vamos lá", comandou Alyssa, e, como se fossem uma única entidade, ela e seu contingente levantaram-se, correram do abrigo e seguiram em direção ao santuário, sempre atentos aos guardas. Mas não havia nenhum. Parecia que Oram e seus homens haviam feito sua parte.


Alyssa subiu os degraus que levavam ao santuário, gesticulando para que seus guerreiros se espalhassem. Eles entraram, passaram pelo umbral e rodearam a estátua do lobo. Escondidos nas sombras, eles se recostaram contra as colunas, fundindo-se à escuridão, e simplesmente esperaram.


Ela olhou para cima. Na antiga tradição de Valoran, a morte era muitas vezes representada como algo de natureza dualista, que podia assumir tanto a forma da Ovelha da morte pacífica quanto a do Lobo dos desfechos violentos. Em Noxus, esta última representação era venerada com bem mais intensidade e panóplia. Morrer pacificamente na cama não era exatamente o melhor jeito de assegurar a honra em um império que cultuava a força.


Alyssa respirou fundo para desacelerar o ritmo de seu coração. Suas mãos estavam úmidas. Ela as secou em seu manto.


A espera era sempre a pior parte.


Ela olhou em volta novamente e percebeu que mal conseguia enxergar seus homens. Ótimo. Se eles fossem vistos cedo demais, seria tudo em vão. Alyssa ergueu as mãos e prendeu uma malha metálica fina no elmo, de modo que cobrisse seus olhos e obscurecesse seus traços.


Uma torre de vigia distante tocou a quarta hora. Alyssa se preparou. Se seus espiões estivessem corretos, o alvo se aproximaria a qualquer momento...


E, como se fosse ensaiado, uma figura forte emergiu nas sombras.


Acompanhado de quatro guardas do palácio, ele vinha do Bastião Imortal. A figura central, vestida de preto da cabeça aos pés, ficava quase invisível na escuridão do alvorecer.


Era o terceiro membro do Trifarix: o Sem-Rosto.


A figura anônima andou lentamente em direção ao santuário, lançando olhares de um lado a outro, como se procurasse algo nas sombras. Suas mãos, ocultas sob mangas pesadas, estavam unidas à sua frente.


Os guardas pararam ao pé do santuário. O Sem-Rosto pareceu confabular brevemente com eles, embora Alyssa estivesse afastada demais para distinguir qualquer palavra. Em seguida, a figura mascarada seguiu sozinha, aparentemente para prestar homenagem ao Lobo.


Embora os guerreiros das tropas e os lutadores das arenas de gladiadores fossem os visitantes mais frequentes dos vários santuários marciais espalhados pela capital, até os burocratas, comerciantes e servos faziam oferendas com regularidade. Os espiões observaram que o Sem-Rosto visitava aquele santuário na quarta hora de cada quinto dia, sempre rodeado de guardas e oculto na escuridão.


Felizmente, apesar de os membros da Legião Trifariana serem absolutamente leais, meros guardas do palácio podiam ser subornados para fazer vista grossa.


Quando a figura mascarada se aproximou da grande estátua, Alyssa saiu das sombras. Em resposta, os guardas subornados deram meia-volta e retornaram ao Bastião Imortal. Apontando a flecha para o Sem-Rosto, Alyssa andou cautelosamente até a luz cintilante das tochas em torno da estátua.


"Não se mexa e não grite", ordenou ela. "Seus guardas saíram, e agora você está na mira de doze balestras."


A figura de túnica emitiu um som abafado, talvez de surpresa, e aproximou-se dela. Havia algo distintamente familiar naquele vulto, tanto no som quanto nos movimentos obtusos...


"Parado aí", disse Alyssa. O Sem-Rosto congelou.


Ninguém em Noxus parecia saber quem era o terceiro membro do Trifarix, ao menos ninguém que Alyssa e Oram conhecessem. Aquela era a força do engano, a representação do princípio da ardilosidade no Conselho dos Três.


Mas Alyssa queria mudar isso.


"É tudo uma questão de negociação,"dissera o irmão."Se descobrirmos a identidade daquela figura, podemos usá-la a nosso favor."


"Não vamos machucá-lo", declarou Alyssa com a maior segurança possível. "Tire sua máscara e ninguém derramará sangue."


A figura encapuzada olhou ao redor, à procura dos guardas ou talvez dos arqueiros mencionados por Alyssa, disfarçados na escuridão. De repente, a figura deu mais um passo, agora bem próximo à balestra de Alyssa. Suas mãos continuavam ocultas.


Alyssa mirou no peito da figura. "Fique . Onde. Está".


A figura produziu outro som abafado, sacudindo a máscara enfaticamente. Alyssa estreitou os olhos.


Ela expirou lentamente quando percebeu o que teria de fazer.


"Ai, ai. Pelo menos isso facilita as coisas."


Ela puxou o gatilho, e a flecha acertou em cheio a garganta da figura.


Um de seus soldados correu até a cena e insistiu que fugissem. "Temos que ir", disse ele. "Temos que sair da cidade antes do nascer do sol, antes que alguém descubra o que aconteceu."


"Tarde demais", respondeu Alyssa.


Ela se ajoelhou ao lado da figura, que agora ofegava no chão. O sangue formava uma poça sob o corpo. Alyssa já tinha visto feridas o suficiente na vida para saber que aquela era fatal.


Ela estendeu a mão e levantou a máscara.


Oram olhou para ela.


O rosto do irmão estava pálido, havia medo em seus olhos, e uma mordaça preenchia sua boca. Ele se contorceu quando a morte chegou. Com os movimentos bruscos, as mangas caíram para trás, revelando mãos amarradas firmemente com um cordão.


Em seu último momento, Oram desviou o olhar de Alyssa para a enorme estátua de lobo acima deles.


Foi então que os legionários chegaram, emergindo da escuridão como cães de caça e cercando o santuário.






O sol já estava alto no céu sem nuvens, e os feixes de luz angulosos entravam pelas estreitas janelas do salão de audiências.


Alyssa estava diante do Trifarix mais uma vez -- de cabeça erguida, mas com pulsos atados atrás das costas. Os membros do conselho a observavam atentamente. Naquele momento, o rosto mascarado do Sem-Rosto talvez fosse o mais intimidador para ela.


Swain finalmente quebrou o silêncio.


"Vamos deixar uma coisa bem clara", disse ele. "O Forte do Minério tem grande valor para Noxus, mas não a ponto de concordarmos com as exigências e ameaças do governador -- isso seria um sinal de fraqueza. Daqui a pouco, dezenas de outras províncias fariam fila aqui no salão com suas próprias exigências. Isso NÃO vai acontecer. Mas você já sabia disso."


"Sabia sim," disse Alyssa. "Mas meu irmão claramente não."


"Então me diga, pois não entendo: por que uma jovem inteligente como você concordaria com um esquema tão óbvio e mal planejado?"


"Dever", respondeu Alyssa.


"O dever para com o império deve estar sempre acima do dever para com a família", disse Swain.


Podia ser só sua imaginação, mas Alyssa pensou ter visto a expressão de Darius se fechar ligeiramente diante dessas palavras. Mesmo assim, o Mão de Noxus se manteve calado.


"Concordo totalmente", disse Alyssa. "Foi por isso que, quando percebi que era meu irmão sob da máscara, atirei nele."


Swain virou-se para o rosto mascarado. "Amordaçar e disfarçar seu prisioneiro foi bastante arriscado. Havia outras maneiras de testá-la."


Ele se voltou para Alyssa.


"Por favor, pelo bem dos meus colegas de conselho, explique melhor: por que você atiraria e mataria propositalmente o seu irmão?"


"Meu pai nos enviou até aqui para morrermos", respondeu Alyssa, "e teria usado nossas mortes para justificar o fechamento das portas do Forte a Noxus."


"Continue."


"Meu pai e meu irmão são dois tolos. Eles foram cegados pelo desejo de reinar sobre os Montes Ferrifarpos mais uma vez, como fizeram os nossos antepassados. Eles arruinariam o meu povo por uma vaidade tão frívola."


Um leve sorriso frio surgiu no canto da boca de Swain.


"Então, Alyssa Roshka Gloriana val-Lokan, o que você sugere que façamos?"






Quando Alyssa abriu as portas para a sala de registros, o velho governador Val-Lokan ergueu o olhar. Seu rosto tomou a forma da mais pura indignação.


"O que está havendo, garota?", rosnou ele, levantando-se. "Você voltou sem avisar? Onde está Oram?"


Atrás dela vinham dois guerreiros da Legião Trifariana, imponentes e ameaçadores em suas armaduras escuras de Ferrifarpa, alabardas a postos.


Ao lado de seu pai estava seu irmão Herok, herdeiro do Forte do Minério. Seus olhos traíam seu medo.


"Guardas!", gritou o governador. "Detenham eles!"


Porém, seu guarda pessoal não se mexeu. A reputação da Legião era conhecida em toda a Valoran, até mesmo entre aqueles que nunca os haviam enfrentado. Eles marcharam com a autoridade do Mão de Noxus. Desafiá-los era desafiar o próprio Trifarix.


Alyssa havia pensado muito nas palavras ditas por Darius, as mesmas palavras de que seu irmão havia zombado.


Bastariam dois membros da Legião Trifariana para entrar e tomar o seu precioso Forte.


No fim, não era uma ameaça vazia.


"O que você fez?", ganiu o velho, afundando de volta em sua cadeira.


"Fiz o que tinha de fazer".


Alyssa tirou do bolso um pergaminho enrolado, recém-redigido e carimbado com o timbre de Noxus - o timbre do Trifarix - e o depositou violentamente sobre a mesa à frente de seu pai, o que o fez pular de susto.


"Por ordem do Grande General, removo você de seu cargo", disse Alyssa. "A partir de agora, eu governarei este lugar, para o bem do império."


"Você?", desdenhou seu pai. "Nunca uma mulher governou o Forte do Minério!"


"Então talvez seja hora de mudar. Precisamos de alguém que se importe com o futuro do nosso povo em vez de cultivar uma obsessão pelos reis e pela glória passada da família."


Alyssa assentiu com a cabeça, e os guardas de seu pai avançaram, agarrando-o.


"Você não pode fazer isso!", protestou ele. "Eu sou seu pai! Sou o seu senhor!"


"Você não é senhor," disse Alyssa. "Muito menos o meu."

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